terça-feira, 10 de março de 2009

Determinismos nada transforma

Houve um tempo em que as civilizações na terra eram estratificadas, divididas em castas, acreditava-se que cada homem, por natureza, nascia onde deveria nascer, e assim deveria permanecer por toda a vida. A igreja católica fundamentou a escravidão dizendo que era da natureza do negro ser escravo, porque este já nascia assim! Na Alemanha nazista, os alemães mediam os narizes e os lábios do povo para identificar aqueles que, para eles, não tinham a natureza pura, aqueles que não eram arianos. Na descrição de Nina Rodrigues sobre criminosos caracterizava justamente os traços comuns aos negros como potenciais infratores por natureza. E se um negro e um branco estivessem diante do delegado, bastava o delegado acusar ao negro, pois, diante a descrição do renomado médico, era aquele que se enquadraria no perfil citado, mesmo que não houvesse prova alguma contra ele. Os deterministas dividiam a intelectualidade e a civilidade entre o hemisfério e o clima. Norte, os civilizados, Sul, os subdesenvolvidos.
Tudo isso citado acima faz parte de uma pseudociência burra, lotada de preconceitos, empirista e, graça a deus, superada em quase sua totalidade.
Temos exemplos, que hoje, pode nos fazer rir, mas não foge muito a nossa atual realidade. Observe esse auto de prisão do RJ de 1924: “é elle portador de estygmas phisicos de degeneração bem pronunciados,(...) Nem mesmo lhe faltam as tatuagens, estygmas phisicos adquirido que, com freqüência aparecem nos degenerados e nos deliquentes.(bastos,2002; Nogueira,2002:99). Ou seja, o cidadão parece com o crime mesmo antes de cometê-lo. E o que mudou hoje? ... Não muita coisa! Temos nossas imagens pré-definidas de criminosos: os negros pobres de áreas periféricas, onde a atuação da polícia é de uma eficiência fenomenal, e a da justiça mais eficaz ainda, vendo que o número de prisões e internações de jovens em “hospitais-cadeias” quase que aumentaram que 400 por cento de 1990 pra cá. Será que nossos jovens se deliquinram ou enlouqueceram em bando de uma hora pra outra? Ou será que vivemos num estado policialesco que demanda toda a sua força não em prol, mas contra determinada parcela da sociedade? A pena dada a um jovem de classe baixa envolvido com drogas, hoje, é muito mais dura que a uma pena dada a um adulto praticante do mesmo crime, mesmo quando a infração daquele jovem é de pouco poder ofensivo. Ainda sim, diferentemente do que o nobre amigo Aílton, a quem prezo muito, citou em sua máxima que “nenhum homem se reabilita”, os jovens que se encerram nesses programas chegam com a esperança de mudar, entrar numa escola ou conseguir um emprego, porém, a realidade que se deparam é totalmente aposta, seja dentro do encarceramento, ou na volta às ruas, onde acabam reincidindo na vida criminosa. Livra-se aqueles que contam com acompanhamento de ongs dedicadas ao assunto que mostram imensa relevância no processo de reabilitação de muitos jovens da classe baixa e destroem a máxima determinista do nobre amigo.
Não vou me alongar mais por que este é assunto pra muitas páginas. Nem se trata aqui de defesa da criminalidade. Mas é preciso saber que o HOMEM É FRUTO DO MEIO, SENDO MOLDADO POR ELE, vivemos numa sociedade excludente, banalizamos a pobreza e a miséria. Num país que tem duas vezes mais seguranças patrimoniais que policiais falta ao cidadão moral pra poder definir alguém como marginal não reabilitável. Nossa apatia cria o estado de medo em que vivemos, e não podemos deixar que nossos medos continue traçando o futuro e o destino de milhares de pessoas. Afinal, as cadeias estão lotadas é de negros, pobres, e semi-analfabetizados, será que é da natureza do negro a preguiça para com o estudo e o desleixo para com as normas sociais, ou será que somos nós, os ditos homens de bens, omissos, que somos desleixados. Será que nos países de civilizados a “natureza” do homem o fez assim por sua geografia?
É muito mais fácil responsabilizar a natureza do cara que ta preso, atribuindo-lhe um estigma do que reconhecer nossa parcela de erro!
Marcel Evangelista

7 comentários:

  1. Concordo em todo com o colega marcel. Contra Fatos não há argumentos. Não se pode confundir o criminoso costumaz com aquele que cometeu um crime fortuito sem pretensões de se tornar um grande gatuno ou assassino. É preciso analisar os motivos, os impultos, a história, o que levou determinada pessoa a tal ação... todos nós somos 99 por cento passionais... somos todos potenciais criminosos, o que nos empata de cometer um delito? nada... todos nós estamos cometendo algum em determinado momento, a gravidade é o que nos difere, a covardia ou a coragem. Estigmatizar o negro, o pobre ou qualquer minoria é muito fácil, quando se está protegido por uma legislação que lhe favorece. Mais uma vez o texto do nobre colega Marcel, é convincente... e o melhor... cheio de argumentos incontestáveis. Um mini-passeio pela história!

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  2. Generalizar é reduzir o status de humano ao de meras máquinas...!

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  3. Estou de acordo com os nobres colegas Emmanuel e Marcel, pois é muito mais fácil e cômodo aplicar o ser humano ao determinísmo, julgá-lo, condená-lo ou até mesmo levá-lo a morte que educá-lo. Queremos sempre soluções fáceis para tudo , como se não fossemos nós culpados de grande parte de tudo isso que assola a nossa existência humana. Como diz Rousseau: " o homem é bom a sociedade é que o corrompe."
    Certamente os argumentos são infinitos para maior convicção do que acreditamos aqui...
    Mas não podemos esquecer que dizer que o homem não pode se reabilitar é o memso que afirmar que não há liberdade, e sim condicionamento. Se acreditamos que o homem seja livre para fazer escolhas, acreditamos que ele pode sempre mudar e melhorar. Sabemos que todos temos uma inclinação para o que é mal, porém permitimos que ele se desenvolva e nos domine ou não. É uma questão de escolhas;"somos livres para escolhermos nossas prisões".O condicionamente não é solução,é uma prisão sem escolhas, chega a ser um paradoxo dizer isso e afirmar que somos seres em mutação. Seria então, uma mutação condicionada e pre-determinada?.
    Não existe liberdade sem escolha...
    Possuimos uma máscara dúbia e vivemos nessa dualidade, mas "às vezes" nos paralisamos com mais intensidade em um lado , mas não que nunca possamos regressar ao outro lado, e vivermos oscilando, pois que somos assim: inprevisíveis ,inconstantes,inacabados,Imperfeitos...

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  4. Vocês eixariam um "ex" assaltante passar uma noite em suas casas? passariam uma boa noite de sono ao lado de um "ex" assassino? Vale a pena pensar!!!

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  5. Se ele fosse meu amigo... sim, se n o conhecesse, buscaria conhecê-lo... todo mundo tem uma história, q vale à pena ser no mínimo compreendida. Ningém dormiria com um estranho, independente do que ele seja! Aliás... heuehueueuehueheuhe Eu dormiria... com uma estranha! Estou todo no sassarico hj! hehehehhehee

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  6. Concordo com o Emamnuel, e saliento que dar uma nova oportunidade, um voto de confiança a alguém que errou, é uma atitude louvável que, ninguém que se diga bom poderia deixar de ter, pois como nos sentiriamos se fossemos nós os que precisassemos de uma chance para mostrar que ainda temos valor, apesar dos erros outrora cometemos?Vou ser um tanto quanto " sentimental" e dizer: Que ama , ama apesar dos defeitos...E amar ñ se resume em sentimentos , mas em ações também.Que cada um faça a sua parte,mas que ñ seja egoísta...

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  7. Se algum ser humano dorme despreocupado e tranquilo, alguma coisa esta errada com ele!

    A diferença entre um pirata e um rei é a quantidade que eles pilham!

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